Por
José Egberto Sátiro de Moura
Texto
extraído do Blog Reflexões Teológicas:
http://www.teologiaevida.com.br/2012/05/porque-expressao-de-fe-da-igreja-de.html
Para
compreendermos bem a expressão de fé da Igreja de Cristo no Brasil, precisamos
entender a diferença entre Luteranismo e Calvinismo. Tanto um quanto outro
fazem parte da Igreja histórica e reformada. A formação de Martinho Lutero foi
feita de filosofia e teologia; Calvino recebeu uma formação humanística, era
de família camponesa, mas, o pai de Calvino era um tabelião que fez do filho um
membro da classe profissional.
Enquanto
João Calvino foi organizador por excelência do protestantismo, Martinho Lutero
foi a sua voz profética. Lutero era fisicamente forte, enquanto Calvino teve de
enfrentar problemas de saúde durante todo o seu período de trabalho em Genebra.
Martinho
Lutero amava o lar e a família, ao passo que Calvino preferia o estudo
solitário. Lutero vivia na Alemanha monárquica, e esperava o apoio dos
aristocratas e príncipes; Calvino, numa Suíça republicana, interessava mais
pelo desenvolvimento de uma igreja governada representativamente.
Enfim
Lutero e Calvino diferiam tanto teologicamente quanto pessoalmente. Lutero
enfatizava a Pregação; Calvino preocupava-se com a formulação de um sistema
formal de teologia. Os dois aceitaram a autoridade da Bíblia, só que a ênfase
maior de Martinho Lutero era sobre a justificação pela fé e a de Calvino, sobre
a soberania de Deus. Lutero rejeitava o que a Bíblia não aprovava; Calvino
rejeitava o que não pudesse ser provado na Bíblia.
Lutero
aceitava a predestinação dos eleitos, mas se preocupava muito pouco com a
eleição para a condenação. Calvino, por sua vez, defendia uma eleição dupla,
para salvação e para condenação, baseada na vontade de Deus, e rejeitou
qualquer concepção da salvação como fruto do mérito do eleito ou da presciência
de Deus, como se Deus elegesse para a salvação aqueles que ele sabia de antemão
que creriam.
Tanto
Lutero quanto Calvino conheciam bem as posições bíblicas e filosóficas de Santo
Agostinho de Hipona. Desde o Século XVI, com o movimento da Reforma os cristãos
reformados aprenderam a resumir a doutrina da salvação em cinco pontos
doutrinários que é histórica e calvinista, e nesse contexto Calvino foi quem
teve a oportunidade de sistematiza-las. No entanto a nossa base doutrinária não
foge desse padrão.
Quando
fazemos um paralelo da doutrina reformada com os principais pontos doutrinários
da Igreja de Cristo no Brasil, chegamos à conclusão que os nossos pioneiros
estavam convictos da base de fé reformada. Esta não é diferente da que nós
defendemos: vejamos os cinco pontos doutrinários calvinistas e os principais
pontos da nossa expressão de fé: Primeiro, a depravação total do homem. Esta
doutrina bíblica ensina que todos os homens são pecadores e estão destituídos
de qualquer bondade espiritual. Todos pecaram e destituídos estão dada glória
de Deus (Rm 3.9-23; Sl 14; Mc 7.21-23) Sob o pecado estão mortos espiritualmente,
corrompidos e não podem realizar qualquer bem ou mesmo voltar-se para Deus.
De
acordo com o quinto ponto da nossa expressão de fé, cremos na pecaminosidade
universal e a culpabilidade de todos os homens desde a queda de Adão início da
ira de Deus e a condenação de todos os homens, e citamos uma base bíblica que
não é diferente: vejamos que a argumentação tem uma boa base bíblica. Gn
2.16-17; 3.1-24; Rm. 3. 9-23; 5.12-21; 6. 23; Hb. 9.27. Vale ressaltar que é uma
doutrina defendida desde Santo Agostinho até a sistematização de Calvino.
Em
segundo lugar a doutrina calvinista defende a eleição incondicional, nossa
Igreja defende justamente a mesma base doutrinária. Esta doutrina permeia toda
Bíblia predestinação refere-se ao propósito soberano de Deus, de predestinar
àqueles homens que serão salvos (Rm 8.29; 9.11-13; Ef 1.9-11). A predestinação
é a base da salvação e inclui a eleição e reprovação.
Neste
ponto da eleição incondicional, também a nossa doutrina não é diferente. Na
nossa expressão de fé, no primeiro ponto doutrinário cremos na justificação
pela fé, salvação eterna do crente, sem concurso do mérito próprio. A
justificação do pecador é somente pela graça de Deus, na suficiência do sangue
remidor de Jesus Cristo, com eterna segurança do cristão. Citamos Jo 10.27-29;
Rm 8.1-2, além dos versos 31-39 de Romanos e Ef 2.1-9. O segundo ponto de nossa
expressão de fé também faz parte dessa eleição incondicional, notemos que temos
apenas mais referencias bíblicas sobre o assunto abordado nos mesmos livros do
Velho e Novo Testamento.
Em
terceiro lugar a expiação limitada é o terceiro ponto apresentado na doutrina
calvinista. Esta doutrina afirma que Jesus Cristo morreu para salvar suas
ovelhas, ou seja, os eleitos de Deus e não pelo mundo inteiro. Aqueles por quem
sofreu e morreu são chamados de minhas ovelhas. (Jo 10.11,26); sua Igreja (Atos
20.28; Ef 5.25-27). Nesse ponto também não somos diferentes.
No
sexto ponto doutrinário da nossa base de fé, vejam o que dizemos: Cremos na
redenção da culpa, pena, domínio e presença do pecado, somente por meio da
morte expiatória do Senhor Jesus Cristo, no Sangue do Unigênito Filho de Deus,
nosso representante e substituto. Rm 3.24; 4.25; 5.6-10; e I Co 1.30 e
15.50-57. Observem que o que dizemos é como se estivéssemos respondendo a
questão acima que é um dos pontos calvinista.
José
Dantas filho, Pastor da Igreja de Cristo em Mossoró Rio Grande do Norte, ao se
referir sobre os motivos que levaram a saída dos pioneiros da Assembleia de
Deus, relatou no livreto Bosquejo Histórico falando sobre a história dos
evangélicos em Mossoró. Ele afirma respondendo ao que pensavam os pioneiros que
o crente é justificado pela fé em Cristo Jesus segundo Rm 5.1-2, sendo assim o
crente está salvo para sempre, ainda que venha cair em erros, como aconteceu no
passado com vários servos de Deus, e ainda acontece hoje com muitos deles, o
Senhor Jesus Cristo mesmo garantiu esta certeza de salvação aos que nele
cressem quando declarou as minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu as conheço, e
elas me seguem; e dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer e ninguém as
arrebatará da minha mão. Jo 10.27-28. Assim, o crente pode, devido as suas
fraquezas espirituais, cair em pecado, desviar-se dos ensinos cristãos, mas não
perderá a salvação que lhe foi outorgada gratuitamente pelo Filho de Deus
mediante a fé depositada em Jesus Cristo e no seu sacrifício realizado na cruz
do Calvário em favor do próprio pecador perdido em seus pecados.
Ele
afirma de acordo com essa doutrina que se fosse possível perder a salvação e
adquiri-la de novo mais tarde, como pregam alguns, também seria necessário
haver um novo nascimento, ou mesmo terceiro ou quarto, conforme o caso, o que é
totalmente impossível à luz do Novo Testamento. Esta segurança eterna da
salvação do crente é ainda confirmada na palavra de Deus em textos como os de
Jo 3.16 e 36; 5.25-26, além de outros versículos que tiram muitas dúvidas
acerca do assunto inserido no Novo Testamento.
Nesse
contexto ele relata: O que acontece com o crente desviado da sua fé, ou na sua
conduta cristã, é que ele um dia, sinceramente arrependido do seu erro
praticado, voltará, como aconteceu com o filho Pródigo da parábola contada por
Jesus Cristo em Lucas 15. 11-32, a casa do seu pai e será maravilhosamente
recebido por ele, de braços aberto, completamente perdoado com muita alegria,
continuando salvo como antes de se afastar-se da vida cristã normal. Ele
conclui que diante de tais ensinamentos sobre a salvação do crente genuíno, o
grupo entrou em desacordo com a doutrina pentecostal aceita pela Assembleia de
Deus, da salvação Transitória.
O
quinto ponto doutrinário calvinista é a perseverança dos santos, ou segurança
eterna justamente como nós cremos: este ponto sugere que aqueles a quem Deus
chamou para salvação, e depois, a comunhão eterna com ele (santos segundo a
Bíblia) não podem cair em desgraça e perder sua salvação. Mesmo que, em suas
vidas, o pecado os leve a renunciar à sua profissão de fé, (se eles são
autênticos eleitos), mais cedo ou mais tarde, retornarão à comunhão com Deus.
Como explicamos o que nos relata a Bíblia Sagrada, como também o testemunho
acima citado pelo Pastor José Dantas Filho. No Ensino calvinista diz que se uma
pessoa cai em apostasia ou não mostra mais sinais de arrependimento genuíno,
pode ser prova de que nunca foi salvo, e em seguida, que não fazia parte do
numero dos eleitos e é realmente assim que nos ensina varias doutrinas bíblicas
principalmente em Romanos e Efésios.
Contudo
o oitavo item do nosso sistema doutrinário diz que nós cremos: Na missão
soberana e pessoal do Espírito Santo, no arrependimento, na regeneração e na
santificação dos genuínos cristãos e citamos justamente textos que nos levam
para uma proposta de santificação progressiva, e até dizemos que temos a
obrigação de realizarmos boas obras porque somos salvos e não para nos
salvarmos. Jo 3.3-7; 16.7-11 II Co 5. 17; Ef 1.13-14 e Tt 3.5; podemos citar
vários outros textos.
O
escritor Carlos Pinheiro Queiroz ao escrever As Faces de um Mito, na Pg. 85 a
93, relata a cerca das convicções doutrinárias de João Vicente de Queiroz um
dos pioneiros e fundadores da igreja: diz o seguinte. Em 1932, foi um ano de
fortes mudanças, foi neste ano que João Vicente de Queiroz tomou a decisão de
sair da Assembleia de Deus, ainda no mês de junho. Sua leitura bíblica abria
horizontes para entendimento da salvação numa ótica calvinista, embora não
conhecesse praticamente nada sobre a história e postulados doutrinários de
Calvino. O enfoque de João Vicente Queiroz nesse aspecto envolvia tão somente a
doutrina da salvação. Para ele e para nós hoje: O crente, uma vez salvo, salvo
para sempre. Os contrários a essa doutrina atribuíam na época a mudança de João
Queiróz a influencia do Pastor Manoel Higino de Souza durante a visita que João
Vicente de Queiroz fez ao Pr. Manoel Higino de Souza no interior do Rio Grande
do Norte principalmente em Mossoró. Foi nesse cenário que ambos se conheceram,
Manoel Higino de Souza a inda na Assembleia de Deus no ano de 1931.
João
Vicente de Queiroz recebeu as orientações de Manoel Higino para acompanhar
alguns protestantes no pequeno povoado do Moreno no município de Carnaúbas. Há
informações de que Manoel Higino era um Homem muito ungido, conhecedor das
Escrituras. Trocou com Queiroz suas ideais sobre a salvação eterna do crente
genuíno. Havia uma espécie de casamento entre o aspecto prático de Queiroz
perceber esse tema com a sistematização de Manoel Higino de Souza. Mas não é só
isto. João Vicente de Queiroz como também, Eustáquio Lopes da Silva e Manoel
Higino de Souza tiveram esse contato mais profundo com os protestantes
presbiterianos.
Na
verdade Manoel Higino de Souza quando chegou a Mossoró teve esse contato com
alguns cristãos de origem presbiterianos na cidade de Mossoró. João Vicente de
Queiroz também teve esse contato com as escrituras, mas também com os
presbiterianos no Estado do Ceará e quando chegou ao Rio Grande do Norte, com
Manoel Higino de Souza. Assim aconteceu com Eustáquio Lopes da Silva. Veja o
depoimento de João Vicente de Queiroz: no mesmo ano conheci Pastor Eustáquio Lopes
da Silva, homem de pele negra, filho de escrava, talvez o mais dedicado á
leitura entre os obreiros da igreja na época. Manoel Higino e Eustáquio Lopes
da Silva sistematizavam bem melhor do que eu o tema que Santo Agostinho chamava
de justificação pela fé sem o concurso do mérito próprio.
Ele
prossegue dizendo Manoel Higino de Sousa e Eustáquio Lopes da Silva eram muito
queridos em todos os lugares que passavam. João Vicente de Queiroz já tinha
algumas ideias sobre a salvação do crente genuíno, mas não com a mesma
facilidade dos dois. Foi no encontro que teve em Mossoró que trocaram muitas
ideias sobre o assunto, João Vicente de Queiroz aprofundou-se sobre a doutrina
da justificação pregada por Santo Agostinho, seguida por Lutero e Calvino, é
nesse contexto das Igrejas históricas que surgimos como igreja de Cristo no
Brasil.
Nesse
contexto a Igreja de Cristo é uma denominação de moldura pentecostal, fundada
no Nordeste brasileiro, em Mossoró Rio Grande do Norte no dia 13 de dezembro do
ano de 1932. O seu surgimento dá-se em função de uma dissidência na Assembleia
de Deus, e por questão doutrinária é uma igreja genuinamente nordestina,
historicamente caracteriza-se como a primeira igreja evangélica nativa
brasileira, é uma igreja com características singulares, foi à terceira
denominação pentecostal que se estabeleceu no país, a primeira denominação
protestante a ser administrada por uma liderança totalmente brasileira e
nordestina.
Foi
também a primeira igreja produto de uma dissidência dentro do pentecostalismo
nascente do Brasil. No segundo concílio da igreja de Cristo no Brasil,
realizado em Mossoró-RN o Concílio que participou vários obreiros, eles tomaram
uma decisão importante sobre dois temas como o batismo cristão que não deveria
se repetir mesmo tendo sido batizado por aspersão á não ser quando o batizando
reivindicasse por imersão. Como vimos também quando era celebrada a Ceia do
Senhor esses dois sacramentos deveriam ser mantidos pela fé e pelo amor. Eles
aprenderam com Goodman segundo o relato de Manoel Higino de Souza no segundo
Concílio. Estudos bíblicos da Igreja Presbiteriana 16 de dezembro de 1934 Pg.
192.
A
igreja de Cristo no Brasil é uma Igreja que tem uma construção doutrinária, o
Doutor e Pastor também sociólogo, Alexandre Carneiro, relata em sua tese de
Mestrado com o título A Trajetória da Luta Pelo Poder no Pentecostalismo o caso
da Igreja de Cristo no Brasil Pg.88. Relata que a Igreja de Cristo no Brasil
incorpora o ethos protestante reformado e convercionista.
Ao
pesquisar sobre esse tema vejam o que encontramos de comentários sobre o
principal líder e outros que construíram a nossa Igreja e doutrina. João Bosco
de Sousa 2007 diz que os dois primeiros grupos pentecostais estiveram sozinhos
até 1932. Até que um dos maiores expoentes da Assembleia de Deus o Pastor
Manoel Higino de Sousa por divergências internas sai da Assembleia de Deus e
Organiza em Mossoró no Rio Grande do Norte a Igreja de Cristo no Brasil.
Já
no Site da missão sueca no Brasil comenta: no início dos anos 30, nasceu no
Nordeste do Brasil a Assembleia de Cristo, formada por obreiros nacionais entre
eles Manoel Higino de Souza, que passaram a crer que “uma vez salvo, salvo para
sempre”, e continua um obreiro nacional leu um panfleto calvinista e começou a
ensinar que aquele que aceitasse a Cristo não tem possibilidade de perder a
salvação. Em outro comentário encontramos o seguinte: que na convenção de 1933,
houve a exclusão dos pastores Adriano Nobre de origem presbiteriana e Manoel
Higino de Souza por se envolverem com novas doutrinas.
Num
outro Site encontramos esse comentário: talvez o mais importante cisma tenha
ocorrido em 1932, os Pastores Manoel Higino de Souza, e João Vicente de Queiroz,
entre outros, saíram em defesa da salvação incondicional, proposta pelo
calvinismo, divergindo da Maioria dos missionários suecos. A negativa do
Missionário Nils Kastberg, quanto ao pedido da realização de uma convenção para
tratar do tema, resultou na retirada dos adeptos do calvinismo para fundar a
Assembleia de Cristo mais tarde, Igreja de Cristo no Brasil muito presente no
Ceará.
É
nesse contexto que nasce a Igreja de Cristo no Brasil, uma igreja em que Seu
sistema doutrinário é Bíblico Reformado e Calvinista.
(Este
texto é parte do livro; Biografia da Igreja de Cristo no Brasil no contexto da
evangelização brasileira escrito pelo pastor José Egberto Sátiro de Moura.)